domingo, 12 de outubro de 2008

CASA VELHA (2)


Em 1986, como terei dito na apresentação da secção "danjaquina", entrei pela primeira vez na "casa Velha". A " casa velha", como se sabe, é a mais emblemática associação cultural que existe em Maputo. O nome vem do edifício que é sede e é onde funciona a dita associação cultural. Porque é um edifício inegavelmente velho ( hoje, mais de 20 depois, a casa continua cada vez mais inegável e insustentável e perigosamente velha) os fundadores da associação decidiram, nada melhor e mais original, chamar ao sítio " Casa Velha". Na altura estavam em cartaz duas peças ( o que diz sim e o que diz não- Bertolt Brecht; e quem me dera ser onda-adaptado de um romance homónimo de Manuel Rui).

Como já vinha sendo hábito, passei uma parte das férias escolares desse ano na Beira,onde vivia a minha mãe e mais dois irmãos. A propósito, recuperei uma guia de férias que nos era dada na escola. A mesma servia para apresentarmos no local onde fossemos passar as férias, garantindo que tínhamos feito as "actividades de férias" nalguma unidade produtiva...

Assim, não me recordo se foi ainda em 1986 ou em princípios do ano seguinte, 1987, o Machado da Graça ( salvo erro da memória) trouxe-nos um texto de um outro autor africano e começamos a ensaiar. Era a primeira vez que participava numa peça " à serio".

Na " Casa Velha" não havia esquisitices. Todo o gajo que aparecesse entrava para o grupo de trabalho. No início fazíamos "exercícios de preparação de actor" que era mistura de alguma preparação física ligeira e exercício propriamente para actores: mímica, projecção de voz, improvisação, etc. Desta maneira, num dia podíamos estar na sala uns trinta jovens(O que fazia estalar consideravelmente o chão de madeira da sala de ensaio) para no dia seguinte sermos somente uns 7. Nada parava nem mudava.

Depois do ensaio, entregava-mo-nos às mais diversas ocupações. A mais importante era estudo das matérias escolares. Outros preferiam colar-se à televisão. Havia também um laboratório de fotografia, uma pequena mas bastante famosa biblioteca, mesa de ping pong. De resto, a casa velha, era uma das mais equipadas instituições culturais e recreativas da cidade. No nosso armazém havia de tudo e nossa criatividade explorava aquilo e a paciência do Machado da Graça até ao limite. Nisso contávamos com a cumplicidade sempre bem disposta do Luís Soeiro, que embora fosse da " idade " do Machado, muitas vezes, e de forma disfarçada, divertia-se mais connosco, os jovens.

Quando começamos a ver o texto e a construir os personagens, comecei por fazer parte " da escolta" de um " alto funcionário". Na história, claro. o tipo era tão importante que tinha escolta e andava numa espécie de " machila". Era o "mbia" interpretado por Luís Soeiro.

Foi a minha entrada para o mundo do teatro. E três pretendentes um marido foi uma ( de entre várias, vide a imagem acima) das peças que iniciou uma revolução em Maputo e Moçambique.


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