segunda-feira, 13 de outubro de 2008

LÍNGUAS NACIONAIS E COMUNICAÇÃO (2)



Dou seguimento a apresentação da comunicação que partilhei no seminário de reflexão sobre a Rádio e Televisão realizada na Cidade da Beira no ano 2000. Chamo a atenção para o facto de alguns dados citados estarem ultrapassados ( indiquei com * e ** os mais evidentes).

A questão imediata que se colocou à Rádio Moçambique é: transmitir sim em Línguas Nacionais,mas em quais. Os Estatutos da Rádio Moçambique dão a resposta: nas línguas moçambicanas mais faladas em cada província. Aí o programador ( e o decisor) de rádio pergunta: quantas línguas faladas devem ser consideradas as mais faladas( em cada província): quatro, três ou apenas duas? A Rádio Moçambique abraçou diferentes critérios, partindo da análise caso a caso. è verdade que Rádio Moçambique um único entendimento sobre esta matéria, mas o resultado denuncia o manuseamento de muitas visões. Na Zambézia, por exemplo, transmite em duas línguas nacionais; em Inhambane em 3 ( em certo momento, introduziu uma quarta- o CiNdau); em Cabo Delgado, 4...

Deste cenário multilingue emerge um outro problema. Quanto tempo de antena deve ser atribuído à qualquer uma das línguas nacionais em questão? aqui a Rádio Moçambique optou, no geral e no espírito, por estabelecer uma relação proporcional entre tempo de antena e número de falantes. Porém, o resultado é muito complicado e de certa forma contraditório. Por exemplo, o Makhuwa, em Niassa tem de emissão diária 1 hora e é falado por 48 % da população. O Cinyanja, com 8 %, tem 4 horas diárias *. Temos ainda caso da língua sena que é falada por 8 % da População na Zambézia, 12 em Tete, mas não é transmitido naquelas províncias. O Kimwani, porém, com apenas 6 % de falantes em Cabo Delgado, tem duas horas de emissão. O Português, apesar de ter nitidamente poucos falantes, em todo o território nacional, ocupa nos emissores provinciais cerca de 45 % do tempo de transmissão **. Há muitas razões que explicam este estado. Mas avulta o princípio de ser língua de unidade nacional; o de ser língua de ensino; língua, portanto, oficial. E , por fim, é indiscutível que o português é a língua cuja distribuição inter-regional supera qualquer outra falada em Moçambique.

As diferentes maneiras de falar uma mesma língua também proporcionam alguns constrangimentos. Dentro do ndau,por exemplo, falado na província de Sofala, há inegáveis diferenças.Por exemplo, o Cindau falado na cidade da Beira e o de Machanga, mais a sul, não é igual. Alguns críticos podem dizer que este problema não atrapalha a comunicação; que as pessoas acabam entendendo-se. É verdade, sim senhor. Mas cada um fala e ouve com mais agrado a variante que os pais e avós lhe ensinaram. E mais. Existe uma tendência para rejeitar ou estranhar outras formas de falar a mesma língua. Contudo,a própria comunidade de falantes da mesma língua acaba elegendo uma das variantes como a de referência ( ou franca, ou de maior estatuto) que é aceite, falada e compreendida por todos. Tem sido esta variante que a Rádio Moçambique selecciona para as suas emissões. Na falta desta aceitação ( compromisso) tácita a este nível, são convocados outros elementos sócio-linguísticos, tais como políticos,económicos, históricos,sociológicos,localização geográfica, etc. (continua)


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