domingo, 2 de novembro de 2008

EMISSÕES REGIONAIS E BOLSAS LINGUÍSTICAS (2)

QUE TRATAMENTO DEVE A RÁDIO MOÇAMBIQUE (RM-EP) CONFERIR À SITUAÇÃO EM QUE UMA DETERMINADA COMUNIDADE/REGIÃO DE UMA PROVÍNCIA NÃO CONSEGUE SINTONIZAR O "SEU" EMISSOR PROVINCIAL?

Para melhor respondermos à esta questão deveremos primeiro caracterizar o sistema de radiodifusão envolvendo as emissoras provinciais. em momento próprio faremos o estudo de um caso específico.
1. As emissões provinciais em Onda Média
A partir de 1996 a RM-EP iniciou a substituição de emissores velhos de Onda Média. Neste processo foram abrangidos os emissores de Onda Média em todas as províncias onde já existiam emissões locais.Zambézia foi a primeira província, em 1996, tendo culminado com Niassa, a 7 de Julho de 2001.
O Processo abrangeu a montagem de novos emissores de 50 KW nos emissores provinciais que já possuíam emissões próprias.Ficou de parte a província de Gaza que até então beneficiava-se das emissões transmitidas através do Emissor Interprovincial de Maputo e Gaza( EIMG). Gaza passaria na esteira deste processo a dispor de uma emissão própria também com um emissor de 50 KW. O que significa que neste momento cada uma das 10 províncias de Moçambique dispõe de uma emissão local transmitida através de um emissor de 50 KW.
2.constrangimentos à cobertura
a)natureza do sinal
Documentação diversa indica-nos que o total acumulado da potência dos emissores em Onda Média bem como a da rede em FM para retransmissão do sinal da Antena Nacional ( serviço nacional 24 horas em língua portuguesa), alguns canais especializados ( Rádio Cidade, Canal de desporto, serviço em língua inglesa e algumas emissões provinciais) é suficiente para cobrir a totalidade do território nacional e parte dos países vizinhos, no período nocturno, e muito próximo disso durante o dia solar. Esta variação está relacionada com a natureza da expansão do sinal do sinal em Onda Média que é afectada pela irradiação solar. Por conseguinte, na ausência deste factor, a transmissão do sinal é muito mais efectiva.
b) Limites geográficos
uma olhadela ao mapa do nosso País recorda-nos as irregularidades do seu espaço, lembrando um fulano com a cabeça pequenita e a parte da cintura para baixo grande. Isto se virarmos o mapa para baixo. Para vermos como esta questão interfere na cobertura, fiquemos com o seguinte exemplo: se tivermos dois emissores de igual potência colocados nos dois extremos do país ( num ponto onde o país é estreito e outro onde é mais largo), veremos claramente que a maior parte do sinal do emissor colocado na parte estreita do país "perde-se" para os países vizinhos, enquanto o sinal do outro emissor colocado na parte avantajada do país há-de ser manifestamente insuficiente para cobrir a região em seu redor dentro do território desejado.
c) Localização do emissor versus mapa etno-linguístico
Esta é a situação mais preocupante. Como se sabe (1) as fronteiras políticas no nosso continente não atendem as características etno-culturais-linguísticos dos nossos povos. (2) por outras razões, incluindo as de herança, a divisão administrativa do país tem a mesma característica. Quer dizer, uma determinada comunidade etno-linguística não está confinada numa só província. Ela existe em diversas províncias, representando, em qualquer uma delas um valor e uma expressão própria. Assim, há emissores que estão localizados num dos extremos da Província, não sendo devidamente escutados num outro extremo e perdendo-se o seu sinal para outras províncias, que se calhar não falam as línguas transmitidas ou já são suficientemente cobertas pelo seu próprio emissor provincial. Por exemplo: O emissor de Inhambane, instalado no sul da Província é mal sintonizado no norte do seu território que, entretanto, tem mais facilidade de captar o emissor de Sofala ou Manica.
Também verificam-se situações em que determinada língua não é utilizada num determinado emissor provincial quando na província há uma comunidade etno-linguística da língua em questão. Ou vice-versa. os emissores provinciais de Tete e Zambézia não transmitem a língua sena, embora se registem comunidades expressivas desta língua nos seus territórios.
d) disposição topográfica e estado do tempo
É sobejamente sabido que a disposição topográfica e o estado do tempo influem na propagação do sinal de rádio. As montanhas, a nebulosidade, as descargas electromagnéticas, por exemplo.
Resumindo
A instalação de novos emissores de 50 KW nos emissores provinciais da RM-EP significou a disponibilização do sinal, porém, a cobertura/satisfação não é proporcional pois é condicionada por múltiplos factores, tais como os que acabamos de visitar, resultando em, portanto, comunidades com:
  • sinal, mas sem a língua apropriada;
  • sinal e línguas desejados e apropriados;
  • sinal não desejado/apropriado
  • etc

( continua)

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