domingo, 18 de janeiro de 2009

FUNERAL E FALECIMENTO

Inicio hoje uma pequena digressão pelo universo do funeral. Trata-se, como se sabe, do acto de enterrar uma pessoa morta. Mas não são só pessoas mortas que merecem um funeral. Há também quem faça o funeral para um cachorro, um gato, etc. Ficou famoso cá entre nós o funeral para um rato. Até. Mas para falarmos com maior propriedade do "funeral" vamos primeiro descascar um conceito relacionado. O famigerado "falecimento".
Olhando para as partes que compõem a palavra falecimento: falecer + mento decanta-se o seu significado: acto de falecer, falecer. É isso que dizem os dicionários. Contudo, é comum ouvir alguém dizer que "vou ao falecimento". Ou, que em casa do tal fulano há "falecimento". No nosso meio ( Moçambique) tais construções são absolutamente normais. É que, como se pode compreender, a palavra "falecimento" ganhou um novo significado, passando a designar não só o acto de perder a vida como também todas as cerimónias que decorrem daquele facto. Portanto, estamos diante de um neologismo. Um neologismo semântico.
Ora, nos dias que correm, falecimento também é a própria cerimónia de enterro. E por extensão, as concentrações que se realizam em honra do finado. Seja no velório, seja após a missa ( 7º , 30º dia, etc). Assim, alguém pode dizer que vai a um "falecimento" quando na verdade vai à missa do 7º dia ou ao "chá" que indubitavelmente se lhe segue.
Para nós, neste texto, funeral é exclusivamente o acto de enterrar. Tudo o resto caberá na sombra de "falecimento". Certo?
Como se sabe, o funeral é realizado, normalmente, num cemitério. Seja ele público ou privado.
Ao longo da história, o funeral é interpretado e realizado das mais diversas formas. Seguindo os mais diversos e inusitados rituais. E uma das características comum às diversas culturas e sociedades é a publicidade que se dá ao funeral. Ou seja, por norma, o funeral é um acto público ao qual acorrem muitas pessoas. Tantas mais pessoas acorrem a um funeral quantas mais pessoas conheciam ou estimavam o finado. Mas não é só por isso que os funerais atraem muitas pessoas. Também acontece que segundo certas crenças é "perigoso" não atender o funeral de alguém conhecido (ainda que não fosse das relações directas) tomando-se conhecimento do facto. É que pode dar azar ou pode significar "inveja" do finando ou "desprezo" pela dor alheia. Estudos há que nos indicam que em certas sociedades participar num funeral é um gesto que obriga a outra parte a devolver o favor quando chegar " a minha vez". Bem, como se vê, há muitas razões que podem explicar grandes molduras humanas nos funerais. Mas sem, dúvida, que no nosso país, na região sul mais especificamente, cristalizou-se o chá( juntamente com o peixe frito e pão) como a grande mobilizadora de participação.
Por estas e outras razões os cemitérios andam sempre cheios de vivos e mortos. Os últimos a irem lá para sempre e os vivos num vai e vem constante. Não há dia de semana que o cemitério não registe enchente. E como cada vez morre-se mais, a peregrinação dos vivos ao campo santo torna-os em mortos-vivos. O meu ponto é: que implicações económicas para o País tem a nossa visita frequente ao cemitério? Analisemos a questão com base nos seguintes factores (a) ausências ao serviço/escola (b) uso de meios alheios ( viaturas do estado, pagamento de anúncios com orçamento de estado, por exemplo).
O custo médio do funeral para a família e o business ao redor do funeral serão os assuntos do próximo post sobre a matéria.

1 comentário:

M-UniT disse...

Saudações Sr Ndapassoa. Vim por esta agradecer a colocação destes provérbios e assuntos sociológicos neste sítio da internet. Estou a fazer um trabalho de Sociologia Geral para o Curso de Licenciatura em Administração Pública pela UCM/CED Quelimane entitulado "Factos Sociais na Sociedade Moçambicana" e, por acaso, escolhi o tema falecimento. Estas suas ideias irão com certeza ajudar-me bastante. Obrigado, continue a actualizar o site.


Leonardo Guerra
facebook.com/machesso