domingo, 18 de janeiro de 2009

SE NÃO FOSSE EU ou a saga do aís


Era uma vez um aís. É o que sobrara quando o PAÍS minguava. Ficou um quase morto-vivo. Nesse País, aliás, aís tudo não havia. Por isso, nenhuma coisa se designava SE NÃO FOSSE EU. SE NÃO FOSSE EU gostava de brincar de ser couve, farinha amarela e lenha. Nas horas que devia ser almoço. No engana-bicho, outrora mata-bicho, os meninos e meninas, senhores e senhoras e vovos se perdiam na cidade vasculhando os salões de chá. Mínima desconfiança, logo formar bicha. Se amanhavam nas bichas para comprar arrofadas. Bichas de grávidas. Bichas de crianças. Bichas dos homens. Bichas das mulheres. E bicha dos sem bichas. E bicha das pedras, nas padarias e cooperativas, e logo: essa pedra sou eu. Mas a metáfora real do se não fosse eu era sem dúvida o repolho. E o carapau. Vamos então acompanhar o testemunho do lúcio à propósito desse tempo, tendo o cine-scala como palco de teatro do dia-a-dia:
A minha memoria do Scala: Tou na bicha, são 6:10h da manha... somos muitos. 6:30h, a bicha avança... entro e corro para uma mesa de quatro lugares. Sento-me, um copo de leite e dois bolos já estavam a minha disposição. Na mesa, tenho a companhia de três desconhecidos. Num trago, acabo o leite... Arrumo os bolos na pasta. Volto a bicha...(x)
Eu também tenho histórias, muitas para desbobinar. Numa delas o "artista" é um tio meu. Homem valente nos copos. Cerveja, como se sabe, naquela altura, só saía com refeição. E o meu tio carregava com todos os sobrinhos e filhos ( uns quatro) para o " PIgalle" ( hoje BCI da 24 de Julho, perto do Mimos e Calus), ou Submarino ( na baixa da cidade, perto do porto), etc,etc. Pedia 4 refeições. Cada refeição saía com 2 cervejas. Para nós os miúdos era uma festança. Para o tio era uma bebança.
A outra história conto-vos através de uma guia de marcha. Dos tempos em que na Escola Secundária "Josina Machel" ( zona do Museu, Bairro da Polana, cidade de Maputo) só se estudava até 9ª classe e o fardamento para todas as escolas secundárias era camisa/calça-saia castanha e a escola primária vestia fardamento azul. Pois, sem a cuja "guia de marcha" ( e a respectiva actividade de férias) não podia sair do meu local de residência indo para algum lado. E quando chegava a Beira, meu destino, embarcava para Chimoio um sub-destino, nos Machimbombos Marcopolo da ROMOC, numa viagem que começa às 5 horas da manhã e terminava à noite (se não sofrer uma emboscada a meio do caminho). Para percorrer uns escassos 200 KM. Hoje faz-se o mesmo percurso num máximo de 2 horas meia. Era o nosso ais.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bastante interessante esse depoimento.