segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

KASA KOOL


Durante perto de 3 meses, 14 concorrentes "degladiaram-se" dentro da Kasa Kool ( Big Brother Moçambicano) para não sair dela e vencer no final.A maior parte do espectáculo foi vista em directo através da TV Cabo. A televisão TIM tinha "janelas" ao longo do dia dedicadas ao Kasa Kool.

Como não podia deixar de ser, o Kasa Kool ( bem como a maior parte dos formatos universais de entretenimento) provocou diferentes reacções dentro e fora do País ( obrigado, mais uma vez, Ju). Tal como aconteceu noutros países na estreia de programa tão ousado. Aliás, como acontece sempre que o programa acontece.

Na nossa praça, uma das discussões mais típicas procurava estabelecer a comparação entre "Kasa Kool" e o " fama Show", por exemplo. E dentro dessa comparação, com muita insistência questionava-se " a mais valia" para os participantes, numa pergunta tipo: " o que se aprende no Kasa Kool". Por oposição ao "curso de Música" ou de "dança" em programas similares.

Entrevistei um das participantes. A resposta foi dada de pronto: "o Kasa Kool ensina-nos a conviver, a crescer como pessoa". Proximamente publicarei a entrevista na íntegra. Obrigado Ginha ( a entrevistada, participante no Kasa Kool).

CASA VELHA: NOITES AFRICANAS




Ainda na pedalada apimentada pelo Lúcio, deixo aqui mais um testemunho das coisas que fazíamos na Casa Velha.Calha à vez às noites africanas. Tudo o que está no cartaz acontecia ( em 1992, eu tinha 21 anos) . Falta dizer que os jovens da cidade de Maputo topavam e aderiam aos diversos programas que criávamos e realizávamos na Casa Velha. O teatro era apenas a âncora. havia o Danjac e as suas revistas BID ( Boletim Infornativo Danjac) e o alvorada ( revista de artes e letras). Havia aulas de vídeo, de computador, saraus, papo até amanhecer, um pouco de xadrez e também as noites africanas. Creio que foram uma criação incentivada pelo Caldas Chemane ( abc, caxaca, flor...).


Das noites africanas muitas outras coisas giras surgiram. Julgo que uma delas, muito mais tarde, salvo erro, terá sido o grupo de dança tradicional Máscara. grupo no qual iniciaram-se hoje mestres e referências internacionais na dança como o alex ( coreógrafo), Célia ( actualmente em Cape Town ) e Panaibra Gabriel, expoente máximo africano da dança moderna a cintilar nos melhores palcos europeus e americanos ( conto trazer na segunda metade de Fevereiro uma entrevista ao panaibra).


funeral ( 2)

Quanto custa um funeral à família?

Procurando conhecer o custo de um funeral para uma família moçambicana, depois de uma busca na internet, obtive uma informação mais vasta: o custo comparativo do funeral em alguns países da sadc. Sempre ajuda saber um pouco mais.

África do Sul

Um estudo, feito em 2004, pelo Programa Conjunto de Economia, Sida e Pobreza (Jeapp, sigla em inglês), da Universidade de KwaZulu-Natal (UKZN), na cidade de portuária de Durban, na África do Sul, descobriu que para os cidadãos sul-africanos custava quase sete vezes mais para enterrar uma pessoa do que para cuidar de um parente seropositivo. Algumas famílias afetadas pela sida gastam até 30 vezes mais em funerais do que em cuidados com a saúde. O custo médio de uma cerimônia fúnebre tradicional gira em torno dos US$ 4,9 mil na África do Sul, segundo o Jeapp. A renda média anual das famílias é estimada em US$ 3,63 mil, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Os custos do funeral incluem o pagamento à empresa funerária, de aproximadamente US$ 325, além de gastos adicionais que vão desde a limpeza do corpo e outros rituais, até vestimenta, anúncios do enterro em rádios e jornais, animais para sacrifícios e alimentos e transporte para os parentes.

Swazilândia
os suazis gastam até US$ 980 em cerimônias fúnebres, embora estime-se que dois terços da população viva abaixo da linha de pobreza, com menos de um dólar por dia (segundo o Fundo Monetário Internacional).

Moçambique
Os pesquisadores do Departamento de Sociologia da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, capital do país, demonstraram que um funeral custa, no mínimo, US$ 300, enquanto mais da metade da população vive abaixo da linha de pobreza. Centenas de dólares mais podem ser gastos em alimentos e flores para as visitas ao cemitério.

Botswana

Não é raro uma família gastar entre US$ 740 e US$ 920 num serviço fúnebre, enquanto o salário mensal médio de um trabalhador equivale a US$ 55.

NB:
Não percamos de vista o nosso exercício. Descontando o custo aqui apresentado, qual é o peso económico que tem a) as ausências ao serviço/escola dos que participam no funeral? b) ao Estado ( patrão) o uso dos seus meios ( viaturas, anúncios necrológicos) no funeral?

domingo, 18 de janeiro de 2009

BIG BROTHER KOOL

Em Setembro-Outubro do ano passado a TIM ( Televisão Independente de Moçambique) surpreendeu o País anunciado e pondo no ar o KASAKOOL, o Big Brother Moçambicano. O primeiríssimo. Trata-se de um formato que é pretendido pelas televisões mais arrojadas e por demais universal. Vamos lá então partilhar o conhecimento sobre o BIG BROTHER ( Neste momento está no ar a nona edição do BBB Big Brother Brasil ( GLOBO), uma loucura autêntica.Os dados aqui apresentados fui busca-los ao Wikipédia.

Big Brother é reality show popular no qual, durante cerca de três meses, um grupo de pessoas (geralmente menos de 15) é mantido numa casa fechada. A casa onde decorre o Big Brother é vigiada 24 horas por dia por câmaras espalhadas por toda a casa. No programa (que é transmitido em directo e continuamente por canais fechados ou especializados) os participantes lutam por permanecer na casa até ao fim, candidatando-se a um valioso prémio em dinheiro e bens. Compete às audiências, através de votos, expulsar ou pescar participantes.

Em 1999, John de Mol, um executivo da TV holandesa, sócio da empresa Endemol, teve a ideia de criar um Reality Show onde pessoas comuns seriam seleccionadas para conviverem juntas dentro de uma mesma casa, vigiadas por câmaras, 24 horas por dia. O nome do programa foi inspirado no livro de Orwell: Big Brother (em alguns países o nome do programa é traduzido, noutros, como Brasil e Portugal, manteve-se o nome original).

O termo em inglês Big Brother surgiu devido à novela escrita por George Orwell, intitulada 1984. Big Brother (ou Grande Irmão como foi traduzido nas versões lusófonas do livro) é o líder que tudo vê da anti utópica Oceania, governante do mundo ocidental num futuro fictício. Representado pela figura de um homem que provavelmente na trama não exista, vigia toda a população através das chamadas tele telas, governando de forma despótica e manipulando a forma de pensar dos habitantes.

Em África, segundo o Wikipédia, antes de Moçambique ( Kasa Kool- TIM), apenas a televisão pa-africana Mnet e África do Sul ( Big Brother Africa , Big Brother South Africa) produziram um big brother.

FUNERAL E FALECIMENTO

Inicio hoje uma pequena digressão pelo universo do funeral. Trata-se, como se sabe, do acto de enterrar uma pessoa morta. Mas não são só pessoas mortas que merecem um funeral. Há também quem faça o funeral para um cachorro, um gato, etc. Ficou famoso cá entre nós o funeral para um rato. Até. Mas para falarmos com maior propriedade do "funeral" vamos primeiro descascar um conceito relacionado. O famigerado "falecimento".
Olhando para as partes que compõem a palavra falecimento: falecer + mento decanta-se o seu significado: acto de falecer, falecer. É isso que dizem os dicionários. Contudo, é comum ouvir alguém dizer que "vou ao falecimento". Ou, que em casa do tal fulano há "falecimento". No nosso meio ( Moçambique) tais construções são absolutamente normais. É que, como se pode compreender, a palavra "falecimento" ganhou um novo significado, passando a designar não só o acto de perder a vida como também todas as cerimónias que decorrem daquele facto. Portanto, estamos diante de um neologismo. Um neologismo semântico.
Ora, nos dias que correm, falecimento também é a própria cerimónia de enterro. E por extensão, as concentrações que se realizam em honra do finado. Seja no velório, seja após a missa ( 7º , 30º dia, etc). Assim, alguém pode dizer que vai a um "falecimento" quando na verdade vai à missa do 7º dia ou ao "chá" que indubitavelmente se lhe segue.
Para nós, neste texto, funeral é exclusivamente o acto de enterrar. Tudo o resto caberá na sombra de "falecimento". Certo?
Como se sabe, o funeral é realizado, normalmente, num cemitério. Seja ele público ou privado.
Ao longo da história, o funeral é interpretado e realizado das mais diversas formas. Seguindo os mais diversos e inusitados rituais. E uma das características comum às diversas culturas e sociedades é a publicidade que se dá ao funeral. Ou seja, por norma, o funeral é um acto público ao qual acorrem muitas pessoas. Tantas mais pessoas acorrem a um funeral quantas mais pessoas conheciam ou estimavam o finado. Mas não é só por isso que os funerais atraem muitas pessoas. Também acontece que segundo certas crenças é "perigoso" não atender o funeral de alguém conhecido (ainda que não fosse das relações directas) tomando-se conhecimento do facto. É que pode dar azar ou pode significar "inveja" do finando ou "desprezo" pela dor alheia. Estudos há que nos indicam que em certas sociedades participar num funeral é um gesto que obriga a outra parte a devolver o favor quando chegar " a minha vez". Bem, como se vê, há muitas razões que podem explicar grandes molduras humanas nos funerais. Mas sem, dúvida, que no nosso país, na região sul mais especificamente, cristalizou-se o chá( juntamente com o peixe frito e pão) como a grande mobilizadora de participação.
Por estas e outras razões os cemitérios andam sempre cheios de vivos e mortos. Os últimos a irem lá para sempre e os vivos num vai e vem constante. Não há dia de semana que o cemitério não registe enchente. E como cada vez morre-se mais, a peregrinação dos vivos ao campo santo torna-os em mortos-vivos. O meu ponto é: que implicações económicas para o País tem a nossa visita frequente ao cemitério? Analisemos a questão com base nos seguintes factores (a) ausências ao serviço/escola (b) uso de meios alheios ( viaturas do estado, pagamento de anúncios com orçamento de estado, por exemplo).
O custo médio do funeral para a família e o business ao redor do funeral serão os assuntos do próximo post sobre a matéria.

SE NÃO FOSSE EU ou a saga do aís


Era uma vez um aís. É o que sobrara quando o PAÍS minguava. Ficou um quase morto-vivo. Nesse País, aliás, aís tudo não havia. Por isso, nenhuma coisa se designava SE NÃO FOSSE EU. SE NÃO FOSSE EU gostava de brincar de ser couve, farinha amarela e lenha. Nas horas que devia ser almoço. No engana-bicho, outrora mata-bicho, os meninos e meninas, senhores e senhoras e vovos se perdiam na cidade vasculhando os salões de chá. Mínima desconfiança, logo formar bicha. Se amanhavam nas bichas para comprar arrofadas. Bichas de grávidas. Bichas de crianças. Bichas dos homens. Bichas das mulheres. E bicha dos sem bichas. E bicha das pedras, nas padarias e cooperativas, e logo: essa pedra sou eu. Mas a metáfora real do se não fosse eu era sem dúvida o repolho. E o carapau. Vamos então acompanhar o testemunho do lúcio à propósito desse tempo, tendo o cine-scala como palco de teatro do dia-a-dia:
A minha memoria do Scala: Tou na bicha, são 6:10h da manha... somos muitos. 6:30h, a bicha avança... entro e corro para uma mesa de quatro lugares. Sento-me, um copo de leite e dois bolos já estavam a minha disposição. Na mesa, tenho a companhia de três desconhecidos. Num trago, acabo o leite... Arrumo os bolos na pasta. Volto a bicha...(x)
Eu também tenho histórias, muitas para desbobinar. Numa delas o "artista" é um tio meu. Homem valente nos copos. Cerveja, como se sabe, naquela altura, só saía com refeição. E o meu tio carregava com todos os sobrinhos e filhos ( uns quatro) para o " PIgalle" ( hoje BCI da 24 de Julho, perto do Mimos e Calus), ou Submarino ( na baixa da cidade, perto do porto), etc,etc. Pedia 4 refeições. Cada refeição saía com 2 cervejas. Para nós os miúdos era uma festança. Para o tio era uma bebança.
A outra história conto-vos através de uma guia de marcha. Dos tempos em que na Escola Secundária "Josina Machel" ( zona do Museu, Bairro da Polana, cidade de Maputo) só se estudava até 9ª classe e o fardamento para todas as escolas secundárias era camisa/calça-saia castanha e a escola primária vestia fardamento azul. Pois, sem a cuja "guia de marcha" ( e a respectiva actividade de férias) não podia sair do meu local de residência indo para algum lado. E quando chegava a Beira, meu destino, embarcava para Chimoio um sub-destino, nos Machimbombos Marcopolo da ROMOC, numa viagem que começa às 5 horas da manhã e terminava à noite (se não sofrer uma emboscada a meio do caminho). Para percorrer uns escassos 200 KM. Hoje faz-se o mesmo percurso num máximo de 2 horas meia. Era o nosso ais.